Uma certa unanimidade aponta o Pinguim como o grande ponto da gastronomia de Ribeirão Preto. Não há como questionar o charme desse septuagenário bar-restaurante-choperia, mas é indiscutível que lhe falta alguma coisa. Impossível saber se foi simples extravio ou perda definitiva.
Parece que o tempo conseguiu prender no Quarteirão Paulista apenas um pedaço da alma da velha capital do velh’oeste brasileiro. O resto está espalhado pela cidade. Num simples giro pelo centro é possível juntar alguns fragmentos dessa lenda brasileira.
A cidade precisava dar uma parada no ritmo de crescimento. Volta-se ao centro em busca de uma referência que nos linque com o passado, mas os detalhes vão se apagando a cada reforma e a gente como que perde o fio da meada nesse emaranhado de fios e fachadas mutantes.
Sobrou a praça, reduto de frescor e serenidade. E resta o Pedrão solene com sua estatura de cimento, mas nem ele com sua clássica sobriedade é capaz de absolver os que deixaram a Estrela d’Oeste apagar-se na queima impune do Cerrado Paulista.
Sem chorar, baixe os olhos e preste atenção nos paralelepípedos que cobrem o chão generoso do espaço entre a praça e o teatro. Foram colocados aqui há 100 anos, são os patronos de um plano diretor que jamais se concretiza. Por pouco não foram cobertos pelo manto negro do progresso. Salvou-os uma turma de saudosistas.
As pedras ficaram expostas para embalar as caminhadas e sustentar as conversas fiadas.
Lembre-se: não importa qual seja o palocci de plantão na cadeira de prefeito, quem manda na cidade são os cupins, as lesmas e os chopins. As andorinhas são testemunhas.
Mas veja que nem tudo se perdeu. Repare quantos bares põem cadeiras nas calçadas e sinta se aí não está presente um pedacinho da alma da cidade.
Sim, a beleza mora na simplicidade. A riqueza, na diversidade.
Esse brilho fugaz no rótulo úmido das garrafas suadas, esse raio fúlgido no colarinho generoso dos copos de cerveja, essa fartura nas porções que enfeitam as mesas -- carne seca, queijo provolone, filé no palito e lambari frito...Tudo isso são cacos brilhantes daquela alma varonil que se extraviou na poeira e na lama de tantas temporadas.
Nesses bares, nessas mesas simples o povo brinda o trivial sem maiores ilusões. Sente-se, peça uma também. Mesmo sozinho, saúde a memória dos que criaram, mantiveram e frequentaram os grandes pontos da gastronomia e da boemia ribeirãopretana, esconderijos onde a alma de Ribeirão busca refúgio. Beba e você verá que mesmo de porre um filho teu não foge à luta. Complete a lista dos pontos mortos da gastronomia ribeirãopretana:
Cassino Antarctica
Lanches Paulista
Caneca de Prata,
Três Garçons
Restaurante Jangada
Chopão
(Crônica publicada em 2018 no Guia do Centro de Ribeirão Preto (240 páginas) ; Geraldo <ghasse@th.com.br> - Achados & Perdidos )
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Bom dia!! Legal o blog. Já localizei nos meus "acúmulos" a câmera fotográfica que pretendo doar ao Museu. Breve entro em contato. Grande abraço.
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