segunda-feira, 26 de abril de 2021

O ASFALTO E O AMBIENTE URBANO - Pedro José Sanches Filho


 Considerando o meio ambiente como tudo que nos rodeia, bem como as relações estabelecidas com este, a urbanização e meio ambiente têm uma relação direta. Por implicar na concentração de pessoas e atividades produtivas sobre um espaço restrito, as cidades geram, necessariamente, impactos degradadores do meio ambiente com efeitos sinérgicos e persistentes. Embora outras atividades, como a agricultura, a pecuária, a mineração e a geração de energia, provoquem igualmente grandes impactos negativos sobre o meio ambiente, a urbanização, por gerar de forma concentrada seus impactos ambientais e difundi-los além dos limites urbanos, merece uma análise especial (Jatobá, 2011).

          No processo natural, as chuvas ao atingirem nossos solos, protegidos pela cobertura vegetal, lentamente deslocam-se por sua superfície, assim como percolam através deste, alimentando os lençóis freáticos. Neste processo ocorre a filtração das águas com redução de materiais particulados e imobilização e decomposição de diferentes contaminantes ambientais (processo chamado de atenuação).

As ações antrópicas na ocupação e uso do solo, tanto em áreas rurais como urbanas, interferem diretamente na quantidade e qualidade do escoamento superficial destas águas, alterando vazões máximas e mínimas dos mananciais.

Restringindo o tema em torno do asfaltamento, destaca-se algumas questões a serem discutidas e pensadas com um pouco mais de atenção. Assim a degradação da estrutura e a impermeabilização dos solos em áreas urbanas têm restringido a infiltração das águas, aumentando e acelerando o fluxo, causado  altos  picos  de  vazão  e,  consequentemente,  uma  frequência  cada  vez  maior  de inundações, fato corriqueiro em nossa cidade.  A  diminuição  na  recarga  do  lençol  freático,  responsável  pela  manutenção  das  vazões mínimas dos mananciais, também é uma consequência da redução das áreas de infiltração de água no solo em muitas cidades.

Os Processos de asfaltamento (e impermeabilização de vias em geral) tradicionalmente devem vir acompanhados de Instalações de sistemas para transportar o escoamento para tanques de detenção centralizados, instalações de retenção e riachos próximos o mais rápido possível.  Porem em episódios de fortes precipitações pluviométricas, essas instalações (quando ativas e existentes) geralmente não conseguem competir com os fluxos oriundos de diferentes superfícies seladas, levando a transbordamento e inundação.

 Nos projetos relacionados à drenagem urbana necessita-se conhecer a  área  impermeável  e  as  modificações  das  condições do  escoamento  superficial  provocadas  pela ocupação  do  solo  urbano.  A infiltração também vai auxiliar na redução de processos de enchentes, pois quanto maior a área permeável para infiltração das águas pluviais menor será o escoamento superficial. 

Alguns detalhes já ajudam como manter uma área próximo as calçadas como o pavimento que permita a infiltração.

Esta água de escoamento superficial (Runoff urbano) com sua vazão potencializada pelo asfaltamento, lava as superfícies urbanas, carregando diretamente para dentro de nossos corpos hídricos um mescla de contaminantes que podem causar entre tantos problemas, efeitos deletérios em nossa biota, inclusive chegando em nossas casas.

Como ilustração podemos exemplificar que o metal Chumbo presente em tintas, tinturas de cabelo etc, arrastado neste processo, chegando  no ambiente hídrico (como nossa Lagoa dos Patos) pode ser absorvido pela organismos ( bioconcentrar e biomagnificar) atingindo por exemplo, peixes e camarões  chegando a níveis considerados tóxicos.

Seria bom lembrar que nossa cidade plana, possui vários caias de drenagem pluvial que canalizam este Runoff, descarregando-o, sem nenhum tratamento no nosso canal São Gonçalo, e este à Lagoa dos Patos

Sem fazer referência ao sepultamento de estrutura históricas, adequada a infiltração desta água da chuva, a cor do revestimento asfáltico é outro fator a ser considerado. Sua estrutura química implica em a uma enorme eficiência na absorção da radiação solar, convertendo-a em calor e colaborando para formação das chamadas ilhas de calor que favorecem a intensificação do fenômeno do aquecimento global.

A falta de informação e a desatualizarão de profissionais de diferentes áreas sobre os problemas e suas causas, pode levar a tomada de decisões com altos custos estruturais e que tendem a aumentar o problema que pretendiam resolver. Mesmo a população, quando se depara com um problema de inundação, solicita a execução ou limpeza de um canal de drenagem pluvial, situação, que apenas irá transferir o problema para outro local. Na Holanda, com mais da metade da área do país abaixo do nível do mar, não tem sofrido tantas inundações. Este comportamento pode-se atribuir em parte a grande percentagem de áreas urbanas com pavimentação permeável e o manejo adequado no nível freático.

A importância histórica e ambiental de pavimentos que garantam aumentem a taxa de infiltração de água no solo ainda são pouco  conhecidas  pela  população  em  geral,  portanto pouco valorizada. 

A natureza levou um bom tempo para desenvolver seus ciclos biogeoquímicos. Toda história humana esta atrelada as relações do homem  com o meio que vive, acredito que nossa sociedade necessita acreditar que é possível uma harmonização entre  os processos da vida produtiva moderna, e processos que respeitem  os ciclos naturais do nosso meio.  

 Dr. Pedro José Sanches Filho - Grupo de Pesquisa em Contaminantes Ambientais- IFSUL- Campus Pelotas

Referências

https://www.researchgate.net/publication/242205224_PAVIMENTOS_PERMEAVEIS_E_ESCOAMENTO_SUPERFICIAL_DA_AGUA_EM_AREAS_URBANAS [accessed Sep 27 2021].

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=244

https://www.researchgate.net/publication/320647662_Pavimentacao_Asfaltica_Contribuicao_no_Aquecimento_de_Areas_Urbanas

https://www.researchgate.net/publication/317070845_The_first_flush_effect_of_different_urban_underlying_surfaces_through_artificial_simulated_rainfall

https://www.researchgate.net/publication/309185288_Determination_of_hydrocarbons_transported_by_urban_runoff_in_sediments_of_Sao_Goncalo_Channel_Pelotas_-_RS_Brazil

Jatobá,(2011).http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5567/1/BRU_n05_urbanizacao.pdf

SANCHES FILHO, P. J.; MESQUITA, G. O.. Determinação de hidrocarbonetos em sedimentos de canais de drenagem pluvial Pelotas/RS. Revista Ibero Americana de Ciências Ambientais, v.9, n.3, p.38-49, 2018. DOI: http://doi.org/10.6008/CBPC2179- 6858.2018.003.0004

Um comentário:

  1. Excelente,muito importante,a questão do lençol freático o fluxo que a água toma,os danos causados.Sou leiga no assunto,mas todos deveriam se conscientizar desta situação. Muito bom mesmo.

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