O que vale mais na vida de uma cidade, um pouco mais do que 100 metros de uma camada rala de breu escuro ou um símbolo eterno da existência de múltiplas relações que não podemos deixar desaparecer?
quarta-feira, 28 de abril de 2021
O ENCANTO DEVE PERDURAR PARA SEMPRE, VAMOS SALVAR NOSSO PATRIMÔNIO - P.R.Baptista
terça-feira, 27 de abril de 2021
ENCAMINHAMENTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO EM RESPOSTA À PREFEITURA
Ao Ministério Público
Promotoria de Justiça Especializada de Pelotas
EXMO SR. PROMOTOR
Dr. André Barbosa de Borba
Encaminhamos a seguir considerações que julgamos oportunas serem feitas neste momento com relação à correspondência encaminhada ao Ministério Público pela Prefeitura de Pelotas.
Nossas considerações encontram-se intercaladas, em itálico, a trechos, em negrito, da correspondência reproduzida em sua íntegra.
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
MUNICÍPIO DE PELOTAS
GABINETE DA PREFEITA
OFÍCIO GAB - 248/2021 Pelotas, 17 de maio de 2021.
Senhor Promotor,
De ordem da Senhora Prefeita, e considerando o Ofício D1.01520.000.240/2021-0001, Procedimento nº 01520.000.240/2021, acerca da representação contra o projeto de asfaltamento da rua General Telles, entre as ruas Almirante Barroso e Gonçalves Chaves, conforme manifestação da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão - SEPLAG, a pavimentação da rua General Telles é uma demanda antiga do município, que melhorará a mobilidade urbana do centro da cidade. O trecho entre as ruas Almirante Barroso e Gonçalves Chaves, receberá capeamento asfáltico, sinalização horizontal e vertical, assim como acessibilidade nas calçadas, garantindo melhor trafegabilidade e segurança ao trânsito e aos pedestres.
Atualmente, o fluxo de veículos que se desloca da região do porto de Pelotas, assim como veículos que acessam o centro da cidade pela avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira, com direção ao bairro Fragata, se concentram na rua Princesa Isabel/Praça Coronel Pedro Osório/rua Marechal Floriano, sendo atualmente o principal acesso que liga a rua Almirante Barroso diretamente na Praça Vinte de Setembro, e na sequência, à avenida Duque de Caxias.
Há uma grande sobrecarga de veículos trafegando pela rua Marechal Floriano, que ainda comporta grande fluxo de ônibus, pedestres e conta com ciclovia, o que a torna uma das ruas mais movimentadas do centro da cidade, gerando lentidão no trânsito, principalmente nos horários de pico. Por isso, com a pavimentação da rua General Telles, boa parte dos veículos que se deslocam da zona sul da cidade em direção ao bairro Fragata adotarão esta via, desafogando a rua Marechal Floriano e dando maior fluidez, conforto e, principalmente, segurança para quem as utiliza, beneficiando toda a mobilidade urbana do centro da cidade.
Sabe-se que os motoristas buscam as vias asfaltadas para deslocamento, de forma que para atender ao propósito de requalificação da Telles, é importante interligar as ruas Almirante Barroso e Marcílio Dias com asfalto. A previsão é de que muitos condutores passem a adotar a rua General Telles, o que será frustrado em caso de manutenção do pavimento ali existente.
O que se observa é a análise da questão viária da cidade de uma forma muito imediatista propondo obras para atender demandas do deslocamento de veículos sem estudos mais aprofundados que busquem soluções de pelo menos médio e, tampouco, de longo prazo, ou seja, simplesmente transferem a questão para um pouco mais adiante. O foco no que está exposto parece ser a sobrecarga de tráfego pela Marechal Floriano o que, a princípio , parece razoável mas ao contrário de afastá-lo do centro , propõe-se deslocá-lo para uma rua que se encontra a duas quadras do próprio prédio da Prefeitura, ou seja, dentro do coração do Centro Histórico. A rua Dom Pedro II, que não é mencionada e que em declarações anteriores era apontada como sendo a rua que exigia ser desafogada, já foi radicalmente transformada para atender esta demanda. E a se buscar uma outra solução ela parece que estaria à disposição pela utilização da rua Três de Maio ( anexo 1) logo adiante e mais distante do Centro Histórico.
Importante esclarecer que não há tombamento do pavimento de pedra existente na Telles, de forma que inexiste impedimento legal para o asfaltamento, assim como o tombamento de um prédio situado na referida rua não pode ser estendido além dos limites desse, de modo a afetar o seu entorno, prejudicando terceiros, e no presente caso, toda a coletividade.
Este é um ponto central nesta discussão. A Prefeitura, com esse argumento, coloca-se em oposição frontal com a interpretação e declarações que já foram apresentadas em outros documentos constantes inclusive deste processo e até mesmo publicamente através da mídia ( em particular, da reportagem publicada no jornal Diário Popular ) que apontam para o entendimento de que o entorno deve fazer parte, sim, parte do bem inventariado.
Relevante, neste sentido, é a decisão do Conselho Municipal de Cultura( anexo 2), que traduz exatamente este entendimento. O que denominamos de Entorno do Café Lamego compreende um trecho dentro do qual encontram-se 7 prédios inventariados aos quais deve-se acrescentar mais dois que ficam na esquina com a Gonçalves Chaves, ou seja, totalizando de fato 9 prédios inventariados.
Além disto considerando que o Centro Histórico já se encontra intensivamente asfaltado em toda sua imediação ( anexo 3) inclusive chegando até a porta do Grande Hotel e dos demais prédios que compõem o entorno tombado da Praça Coronel Pedro Osório ( anexos 3,4,5, e 6) é particularmente relevante e oportuno qualquer movimento para impedir seu asfaltamento total.
No caso presente, importante ressaltar, o trecho que se pretende preservar é um restrito espaço, quase simbólico, considerando a extensão total da obra já em execução.
Após o município ser contatado pelo Sr. Paulo Renato Baptista, foi realizada uma pesquisa de opinião pelas assistentes sociais da Secretaria de Planejamento e Gestão junto aos proprietários dos imóveis das quadras em questão, de forma que a maioria absoluta é a favor do asfaltamento.
Fica difícil comentar esta observação. A referida pesquisa promovida de fato por assessores do deputado Daniel da Tv que tem escritório junto ao Entorno foi feita por abordagens junto a moradores sem qualquer esclarecimento a não ser que se pretendia promover o asfaltamento e mencionando vantagens que seriam advindas, de fato apenas os usuários de automóvel em trânsito pelo local.
Em alguns casos esta abordagem provocou, inclusive, reações documentadas de indignação pela forma impositiva como foi feita.
Estranho igualmente é falar-se em maioria absoluta. Para estabelecer um contraponto encaminhamos ao MP um outro abaixo assinado de moradores contrários ao asfaltamento tomando o cuidado de obter sempre a assinatura não incluindo quem embora se tivesse declarado em nosso apoio não foi possível estabelecer o contato para obter a assinatura.
Ao contrário , e consideramos este fato digno de esclarecimento, na lista alegada como representando uma maioria absoluta consideram-se apoios em que não não consta sequer assinatura nem identificação.
Parece-nos, portanto, este argumento pouco relevante.
De outra banda, por se tratar de uma obra com recursos federais do âmbito do Ministério do Desenvolvimento Regional, onde foram realizadas diversas etapas até a aprovação final do projeto, em caso de o município não realizar uma parte do projeto (asfaltar duas quadras, por exemplo) o recurso financeiro referente a este trecho será perdido.
Não parece proceder esta interpretação uma vez que nossa proposta é de REQUALIFICAÇÃO E PRESERVAÇÃO. Impõe-se por exemplo a obra de escoamento na esquina da Gen. Teles com a Santa Cruz onde desde 2008 ( sim, dois mil e oito) como consequência imediata do asfaltamento da rua Santa Cruz passou-se a se ter constantes alagamentos. Isto foi denunciado em matéria publicada em A METADE SUL ( anexo 7).
A rigor, portanto, o recurso que seria "perdido" que é mínimo considerando o montante da obra presume-se possa ser revertido para melhorias deste tipo além de outras que pudessem beneficiar o Entorno ou até, se fosse o caso, outros trechos. De qualquer forma o recurso não seria perdido, seria apenas reconvertido. Há algum tempo, por exemplo, tivemos o caso do asfaltamento de trechos que mereceriam preservação da pavimentação de pedra, quais sejam da Avenida Bento Gonçalves até a Catedral e , também, pela lateral do Grande Hotel, terem sido realizados com recurso, originalmente, destinado a outros trechos.
Por fim, informamos que a obra já teve início, sendo que já estão sendo realizadas as intervenções na parte de drenagem entre a Rua Barão de Santa Tecla e Avenida Saldanha Marinho.
Atenciosamente,
Chefe de Gabinete da Prefeita
O início da obra apenas nos lembra da importância de que a questão possa ser definida antes que chegue até ao trecho do Entorno do Café Lamego.
Concluindo, estas são as considerações que, no momento, julgamos oportuno serem feitas. O volume de contribuições para a discussão da questão tem sido muito grande assim como de apoios os mais diversos tendo sido, inclusive, muito difícil conseguir reproduzir e repassar todos.
Na realidade é um processo que apenas teve início e deverá ter muitas implicações de forma que sua fase atual poderá servir para outras etapas que poderão advir.
Este entendimento, aliás, é reforçado pelo Conselho Municipal de Cultura ( Ata em anexo) quando em reunião se posicionou, por unanimidade, a favor da preservação do Entorno
Pelotas, 28 de maio de 2021
Prof. Paulo Renato Baptista
p/Comissão pela Requalificação e Preservação do Entorno do Café Lamego
ANEXOS
DOCUMENTOS
CORRESPONDÊNCIA ENCAMINHADA AO MINISTÉRIO PÚBLICO
EXMO SR.
PROMOTOR ANDRÉ BARBOSA DE BORBA
2º PROMOTOR DE JUSTIÇA DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE PELOTAS
Prezado Senhor
Vimos , preliminarmente, para ações que se mostrem pertinentes, encaminhar à sua apreciação a situação relacionada ao anúncio feito pela Prefeitura do asfaltamento de um trecho de duas quadras na rua Gen.Telles entre as ruas Barroso e Gonçalves Chaves, trecho este incluído dentro de um projeto muito maior de asfaltamento que é extensivo até a rua Marcílio Dias. Ressalte-se, portanto, que o objeto deste documento refere-se não ao projeto integralmente mas apenas a uma parte, pequena, da extensão total da proposta de asfaltamento, na realidade bem pequena
Moradores, profissionais e comerciantes que assinaram documento , em anexo, ainda incompleto (1) e apoiadores os mais diversos que estão se manifestando publicamente em diferentes instâncias ( 2) entendem que a pavimentação ali existente com pedras regulares ( paralelepípedos) justamente compõe com as diversas Casas Inventariadas do entorno, entre as quais se destaca, imponente, o Café Lamego, estabelecimento antigo e simbólico de Pelotas, um ambiente digno de Requalificação e Preservação sem asfaltamento e que já inspira artistas e escritores..
Por este motivo foi encaminhada correspondência à Prefeita Paula Mascarenhas ( cópia em anexo ) ainda sem resposta.
Para se ter uma referência aplicável a este caso e a outros semelhantes queremos crer que caberia uma consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) pois se trata do órgão, a nível estadual, que dispõe da expertise e experiência para opinar constituindo-se , neste momento, na referência mais credenciada à respeito da relevância patrimonial e histórica do bem em questão.
Pelotas, por enquanto, parece não dispor de nenhum instrumento legal a respeito do tema o que representa uma grande lacuna considerando que a pavimentação com paralelepípedos tem uma importância muito grande não só pelo aspecto patrimonial, histórico nas também econômico por ajudar a compor um cenário conjuntamente com os prédios que caracterizam a arquitetura da cidade, de grande apelo turístico.
O recente caso de asfaltamento até à frente do Grande Hotel ( foto em anexo), um ícone do conjunto arquitetônico e histórico de Pelotas, demonstra claramente a importância de se ter uma legislação que discipline a questão.
Fica, portanto, nossa solicitação , considerando que as obras de asfaltamento devem iniciar brevemente embora esteja previsto que não a partir do trecho em questão, para que se tenha esclarecimento à respeito das questões levantadas.
Sendo o que nos enseja no momento
Subscrevemo-nos
Pelotas, 20 de abril de 2021
Prof. Paulo Renato Baptista (3)
p/Comissão para a Requalificação e Preservação do ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO
(1 ) Assessores do deputado Daniel Trzeciak também colheram assinaturas. Importante, aliás, ressaltar que a se ter assinaturas para algum propósito que a coleta fosse feita a partir de critérios muito bem definidos e com amplo esclarecimento dos pesquisados . Na forma de abordagem foram, inclusive detectados procedimentos constrangedores conforme denúncia de morador que está documentada.
(2 ) Referências : O ENCANTO DEVE PERDURAR PARA SEMPRE, VAMOS SALVAR NOSSO PATRIMÕNIO - https://ametadesul.blogspot.com/2021/02/a-beleza-deve-perdurar.html
A INVASÃO DO ASFALTO, A REFLEXÃO NECESSÁRIA - https://ametadesul.blogspot.com/2021/04/a-invasao-do-asfalto-reflexao.html
PUBLICAÇÕES NAS REDES SOCIAIS
( 3 ) Professor aposentado de Física do IFSul ; Especialista em Patrimônio Cultural (UFPel); Mestre em Políticas Sociais ( UCPel) ; Especialista em Sociologia Industrial (PUC) ; Especialista em Antropologia Social ( UFRGS)_
OUTRAS REFERÊNCIAS
(4) O trecho em questão , no pequeno espaço que delimita, a partir do número 515 e passando pelo 521 do CAFÉ LAMEGO, tem 9 (nove) casas inventariadas o que representa um exemplo muito significativo de Preservação Patrimonial.
Este conjunto mantém com a pavimentação de paralelepípedos uma relação de complementaridade, ou seja, a existência de um está diretamente vinculada à existência do outro.
Esta relação parece não ter sido até hoje considerada como um fator relevante mas, considerando a velocidade com que a pavimentação de pedra vem desaparecendo teria. talvez, chegado o momento de ser.
(5 ) Para efeito de avaliar o papel da opinião da população usuária da área talvez se devesse dar especial atenção aos proprietários das casas inventariadas aos quais se atribui a incumbência de manter as casas de acordo com as características originais. Parece não ter sentido esperar deles estes compromisso em nome da PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL e, contudo, ao mesmo tempo, o entorno ficar desfigurado descaracterizando os imóveis dos quais são proprietários e, desta forma, tirando-lhes a importância e o valor e a própria disposição de mantê-los conforme as características originais.
A preservação das casas de acordo com as exigências da Secretaria de Cultura pode não ser muito fácil, pode ser cara, o que leva os proprietários tendo que investir em providências às vezes mais urgentes, como consertar um telhado, e perderem o incentivo da isenção do IPTU cujo valor pode não cobrir o da manutenção sequer das fachadas.
Parece, portanto, que considerando estes aspectos a pavimentação de paralelepípedos seja incorporada ao conjunto das casas como igualmente inventariada ou, pelo menos, num primeiro momento, como merecedora de preservação .
(6) Um dos argumentos apresentados muito superficialmente para convencer moradores a assinar como favoráveis ao asfaltamento estaria a realização de obra para facilicar o escoamento da água da chuva que se acumula nas esquinas da Gen.Telles com a Santa Cruz. O que é esquecido é que este acúmulo começou a existir exatamente com o asfaltamento da rua Santa Cruz o que ocorre, portanto, desde aquela data em 2008 (!!!) conforme notícia intitulada "Piscinão da Teles" publicada em A METADE SUL (https://ametadesul.blogspot.com/2008/11/piscino-da-teles.html) (cópia em anexo) e que sua reparação independe de novo asfaltamento.
A forma, aliás, como é feita a abordagem para colher assinaturas além de mostrar-se enganosa também se mostra ofensiva conforme temos depoimentos inclusive registrado
(7) É importante ressaltar, à esta altura, que a dimensão do que está em questão transcende o restrito âmbito do espaço delimitado pelo quarteirão e meio em que se localiza mas já ganhou as redes sociais nas quais a opinião é amplamente favorável à permanência da pavimentação atual e contrária ao asfaltamento. É uma questão de tempo para ir se ampliando mais e mais. Já mencionamos anteriormente algumas referências onde encontrar desta discussão.É pelo menos gratificante que nem sempre o que se colcoca como "progresso",dependendo do que se trate, é visto assim pela comunidade.
CORRESPONDÉNCIA ENCAMINHADA À PREFEITURA
Pelotas, 8 de abril de 2021
Prezada Prefeita Paula Mascarenhas
Desde o anúncio da pavimentação asfáltica da rua Gen.Telles no trecho entre as ruas Marcílio Dias e Barroso, criou-se um movimento para a preservação da pavimentação com pedras regulares ( paralelepípedos) no entorno do Café Lamego entre as ruas Barroso e Gonçalves Chaves localizado no Centro Histórico.
Os contatos, as participações, as adesões vem se ampliando e, mais recentemente, surgiu, inclusive, a ideia da Requalificação anunciada reverter para a Preservação, ou seja, Requalificação com Preservação. .
Existem, portanto, alternativas que possam não ser exclusivamente a preservação da pavimentação original mas agregar outros elementos que enriqueçam o espaço e contribuam para torná-lo mais rico e proveitoso para a comunidade.
A preservação destes elementos de nossa História e de nossa Cultura constituem uma contribuição inestimável para diferentes aspectos que, no seu conjunto, enriquecem o atrativo turístico de nossa cidade e tem influência e reflexos, portanto, na própria Economia.
No momento, na quadra difícil que enfrentamos, esta é a manifestação que preliminarmente queremos fazer ficando no aguardo de desdobramentos.
De antemão agradecemos o interesse e a simpatia demonstrados, ao tomarem conhecimento da proposta, pelo Secretário de Cultura Paulo Pedrozo e o Assessor Henrique Pires o qual, inclusive, recentemente ocupou o cargo de Secretário de Cultura do governo federal.
p/Comissão pela Requalificação e Preservação do Entorno do Café Lamego
Prof. Paulo Renato Baptista
VITOR RAMIL EM NOSSO APOIO
RESPOSTA DA PREFEITURA AO MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
MUNICÍPIO DE PELOTAS
GABINETE DA PREFEITA
OFÍCIO GAB - 248/2021 Pelotas, 17 de maio de 2021.
Senhor Promotor,
De ordem da Senhora Prefeita, e considerando o Ofício D1.01520.000.240/2021-0001, Procedimento nº 01520.000.240/2021, acerca da representação contra o projeto de asfaltamento da rua General Telles, entre as ruas Almirante Barroso e Gonçalves Chaves, conforme manifestação da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão - SEPLAG, a pavimentação da rua General Telles é uma demanda antiga do município, que melhorará a mobilidade urbana do centro da cidade. O trecho entre as ruas Almirante Barroso e Gonçalves Chaves, receberá capeamento asfáltico, sinalização horizontal e vertical, assim como acessibilidade nas calçadas, garantindo melhor trafegabilidade e segurança ao trânsito e aos pedestres.
Atualmente, o fluxo de veículos que se desloca da região do porto de Pelotas, assim como veículos que acessam o centro da cidade pela avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira, com direção ao bairro Fragata, se concentram na rua Princesa Isabel/Praça Coronel Pedro Osório/rua Marechal Floriano, sendo atualmente o principal acesso que liga a rua Almirante Barroso diretamente na Praça Vinte de Setembro, e na sequência, à avenida Duque de Caxias.
Há uma grande sobrecarga de veículos trafegando pela rua Marechal Floriano, que ainda comporta grande fluxo de ônibus, pedestres e conta com ciclovia, o que a torna uma das ruas mais movimentadas do centro da cidade, gerando lentidão no trânsito, principalmente nos horários de pico. Por isso, com a pavimentação da rua General Telles, boa parte dos veículos que se deslocam da zona sul da cidade em direção ao bairro Fragata adotarão esta via, desafogando a rua Marechal Floriano e dando maior fluidez, conforto e, principalmente, segurança para quem as utiliza, beneficiando toda a mobilidade urbana do centro da cidade.
Sabe-se que os motoristas buscam as vias asfaltadas para deslocamento, de forma que para atender ao propósito de requalificação da Telles, é importante interligar as ruas Almirante Barroso e Marcílio Dias com asfalto. A previsão é de que muitos condutores passem a adotar a rua General Telles, o que será frustrado em caso de manutenção do pavimento ali existente.
Importante esclarecer que não há tombamento do pavimento de pedra existente na Telles, de forma que inexiste impedimento legal para o asfaltamento, assim como o tombamento de um prédio situado na referida rua não pode ser estendido além dos limites desse, de modo a afetar o seu entorno, prejudicando terceiros, e no presente caso, toda a coletividade.
Após o município ser contatado pelo Sr. Paulo Renato Baptista, foi realizada uma pesquisa de opinião pelas assistentes sociais da Secretaria de Planejamento e Gestão junto aos proprietários dos imóveis das quadras em questão, de forma que a maioria absoluta é a favor do asfaltamento. De outra banda, por se tratar de uma obra com recursos federais do âmbito do Ministério do Desenvolvimento Regional, onde foram realizadas diversas etapas até a aprovação final do projeto, em caso de o município não realizar uma parte do projeto (asfaltar duas quadras, por exemplo) o recurso financeiro referente a este trecho será perdido.
Por fim, informamos que a obra já teve início, sendo que já estão sendo realizadas as intervenções na parte de drenagem entre a Rua Barão de Santa Tecla e Avenida Saldanha Marinho.
Atenciosamente,
Chefe de Gabinete da Prefeita
segunda-feira, 26 de abril de 2021
O ASFALTO E O AMBIENTE URBANO - Pedro José Sanches Filho
No processo natural, as chuvas ao atingirem nossos solos,
protegidos pela cobertura vegetal, lentamente deslocam-se por sua superfície, assim
como percolam através deste, alimentando os lençóis freáticos. Neste processo
ocorre a filtração das águas com redução de materiais particulados e
imobilização e decomposição de diferentes contaminantes ambientais (processo
chamado de atenuação).
As ações
antrópicas na ocupação e uso do solo, tanto em áreas rurais como urbanas,
interferem diretamente na quantidade e qualidade do escoamento superficial
destas águas, alterando vazões máximas e mínimas dos mananciais.
Restringindo
o tema em torno do asfaltamento, destaca-se algumas questões a serem discutidas
e pensadas com um pouco mais de atenção. Assim a degradação da estrutura e a
impermeabilização dos solos em áreas urbanas têm restringido a infiltração das
águas, aumentando e acelerando o fluxo, causado
altos picos de
vazão e, consequentemente, uma frequência cada
vez maior de inundações, fato corriqueiro em nossa
cidade. A diminuição
na recarga do
lençol freático, responsável
pela manutenção das
vazões mínimas dos mananciais, também é uma consequência da redução das
áreas de infiltração de água no solo em muitas cidades.
Os
Processos de asfaltamento (e impermeabilização de vias em geral) tradicionalmente
devem vir acompanhados de Instalações de sistemas para transportar o escoamento
para tanques de detenção centralizados, instalações de retenção e riachos
próximos o mais rápido possível. Porem
em episódios de fortes precipitações pluviométricas, essas instalações (quando
ativas e existentes) geralmente não conseguem competir com os fluxos oriundos
de diferentes superfícies seladas, levando a transbordamento e inundação.
Nos projetos relacionados à drenagem urbana
necessita-se conhecer a área impermeável
e as modificações
das condições do escoamento
superficial provocadas pela ocupação
do solo urbano.
A infiltração também vai auxiliar na redução de processos de enchentes,
pois quanto maior a área permeável para infiltração das águas pluviais menor
será o escoamento superficial.
Alguns
detalhes já ajudam como manter uma área próximo as calçadas como o pavimento
que permita a infiltração.
Esta água
de escoamento superficial (Runoff urbano) com sua vazão potencializada
pelo asfaltamento, lava as superfícies urbanas, carregando diretamente para
dentro de nossos corpos hídricos um mescla de contaminantes que podem causar
entre tantos problemas, efeitos deletérios em nossa biota, inclusive chegando
em nossas casas.
Como
ilustração podemos exemplificar que o metal Chumbo presente em tintas, tinturas
de cabelo etc, arrastado neste processo, chegando no ambiente hídrico (como nossa Lagoa dos
Patos) pode ser absorvido pela organismos ( bioconcentrar e biomagnificar)
atingindo por exemplo, peixes e camarões
chegando a níveis considerados tóxicos.
Seria
bom lembrar que nossa cidade plana, possui vários caias de drenagem pluvial que
canalizam este Runoff, descarregando-o, sem nenhum tratamento no nosso
canal São Gonçalo, e este à Lagoa dos Patos
Sem
fazer referência ao sepultamento de estrutura históricas, adequada a
infiltração desta água da chuva, a cor do revestimento asfáltico é outro fator
a ser considerado. Sua estrutura química implica em a uma enorme eficiência na
absorção da radiação solar, convertendo-a em calor e colaborando para formação
das chamadas ilhas de calor que favorecem a intensificação do fenômeno do
aquecimento global.
A
falta de informação e a desatualizarão de profissionais de diferentes áreas
sobre os problemas e suas causas, pode levar a tomada de decisões com altos
custos estruturais e que tendem a aumentar o problema que pretendiam resolver.
Mesmo a população, quando se depara com um problema de inundação, solicita a
execução ou limpeza de um canal de drenagem pluvial, situação, que apenas irá
transferir o problema para outro local. Na Holanda, com mais da metade da área
do país abaixo do nível do mar, não tem sofrido tantas inundações. Este
comportamento pode-se atribuir em parte a grande percentagem de áreas urbanas
com pavimentação permeável e o manejo adequado no nível freático.
A
importância histórica e ambiental de pavimentos que garantam aumentem a taxa de
infiltração de água no solo ainda são pouco
conhecidas pela população
em geral, portanto pouco valorizada.
A
natureza levou um bom tempo para desenvolver seus ciclos biogeoquímicos. Toda
história humana esta atrelada as relações do homem com o meio que vive, acredito que nossa
sociedade necessita acreditar que é possível uma harmonização entre os processos da vida produtiva moderna, e
processos que respeitem os ciclos
naturais do nosso meio.
Referências
https://www.researchgate.net/publication/242205224_PAVIMENTOS_PERMEAVEIS_E_ESCOAMENTO_SUPERFICIAL_DA_AGUA_EM_AREAS_URBANAS [accessed Sep 27 2021].
http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=244
Jatobá,(2011).http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5567/1/BRU_n05_urbanizacao.pdf
SANCHES FILHO, P. J.; MESQUITA, G. O..
Determinação de hidrocarbonetos em sedimentos de canais de drenagem pluvial
Pelotas/RS. Revista Ibero Americana de Ciências Ambientais, v.9, n.3, p.38-49,
2018. DOI: http://doi.org/10.6008/CBPC2179- 6858.2018.003.0004
RENATO COELHO E SEU TEATRO DE MARIONETES
Marionete de Renato Coelho
Marionete empregado no video "Harmonia" que aproxima a tradição carnavalesca de Pelotas ao Entorno do Café Lamego.
MÁRIO SCHUSTER - AQUARELA
O CAFÉ LAMEGO NA ARTE DE ALEX LETTNIN
ALEX LETTNIN é um nome muito importante em nosso meio artístico, gravurista de renome e desenhista de grande talento, aderiu ao nosso Movimento como outros artistas e escritores estão aderindo, e nos enviou este precioso desenho representando o ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO, com a pavimentação de pedras preservada, em plena atividade como um núcleo cultural de Pelotas.
ENTREVISTA NO PROGRAMA JORNAL REGIONAL DA RÁDIO PELOTENSE (28/04/21)
https://soundcloud.com/p-r-baptista/entrevista-com-prbaptista-sobre-o-entorno-do-cafe-lamego
ENTREVISTA NO PROGRAMA JORNAL REGIONAL DA RÁDIO PELOTENSE DO JORNALISTA CARLOS MACHADO (28/04/21)
domingo, 25 de abril de 2021
A PAVIMENTAÇÃO DE PEDRAS VAI DESAPARECER ? - P.R.Baptista
Neste processo alguns pontos vão se evidenciando.
A meu ver, neste momento um dos mais importantes, é a distração da nossa comunidade cultural e acadêmica para lidar com uma questão que envolve diretamente o papel e o lugar da pavimentação de pedras no contexto histórico e patrimonial de Pelotas.
Isto parece estar evidenciado pelo avanço que o asfalto na zona central foi tendo por meio de um trecho aqui, um outro ali, sobre a maior parte da zona adjacente à praça , tida como o núcleo com os casarões, o Teatro 7 de abril, Teatro Guarany, Grande Hotel, Prefeitura, Biblioteca, Mercado Público, antigo Banco do Brasil ou seja, basicamente o entorno da praça Pedro Osório.
Isto porque mal nos afastamos um pouco e basta ser alguns poucos passos , o asfaltamento é predominante mesmo em pequeninos trechos nos quais o tráfego de veículos é pequeno e, portanto, não se poderia invocar nem mesmo o argumento da imperiosidade de escoamento do trânsito
Os casos do asfaltamento dos trechos na rua Anchieta entre o Grande Hotel e a rua Tiradentes e, igualmente, entre a Avenida Bento Gonçalves a Catedral apresentam-se como de muito difícil justificativa.
Enquanto isto, ao mesmo tempo, começa a ser também muito evidente o fato de que a pavimentação de pedras não parece estar resguardada por uma legislação como ocorre, por exemplo, com as casas inventariadas por mais simples que sejam , nem mesmo quando esta pavimentação devesse ser considerada como integrante e até parte também essencial do ambiente em que as casas se encontram o que, aliás, é a tese que levantamos com relação ao ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO no qual se encontram nove(09) casas inventariadas..
O que está muito claro é que já não é mais quase possível na cidade distinguir trechos em que a pavimentação de pedras tenha destaque para compor um ambiente de preservação que tanto se procura destacar.
Recentemente o asfaltamento, como já se destacou em outra oportunidade, já chegou às portas do Grande Hotel num avanço que começa, muitos anos antes, com o asfaltamento do entorno da praça em frente ao Teatro 7 de Abril. Aliás, este caso, como também na mesma rua Anchieta o do asfaltamento entre a Avenida Bento Gonçalves e a Catedral apresentam-se como de muito difícil justificativa e , a ser dada por alguém, ajudaria em muito o entendimento da questão que se está analisando.
Entendemos assim que o movimento ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO surge se propondo a ser um alerta para a necessidade de que se defina qual o papel da pavimentação de pedra na composição de um ambiente preservado de forma integral histórica e patrimonialmente, e aponta para que se caminhe para se ter respostas neste sentido
O que se constata através do diagrama bem simples que apresentamos acima dá bem uma ideia do quadro que se tem. A pavimentação remanescente com paralelepípedos na zona central ( em azul) se mostra já bem pequena em relação à pavimentação asfáltica ( em preto) e se mostra recortada, secundária, dando a exata ideia de que ficou à margem sem pouca ou nenhum relação ou interação com o entorno do qual parece não fazer parte mesmo quando constituído por prédios inventariados ou até tombados .
Como consequência a cidade se vê desfigurada cada vez mais impossibilitada de explorar características tão especiais para aprofundar o conhecimento que tem de si própria e aproveitar este conhecimento não só pela riqueza cultural e intelectual que possa proporcionar mas, também , fato que entendemos de relevante importância, igualmente pelo recurso que oferece para sua exploração turística e econômica.
A RUA 3 DE MAIO NÃO TERIA SIDO MELHOR OPÇÃO ?
sábado, 24 de abril de 2021
sexta-feira, 23 de abril de 2021
COMO E ONDE ENCONTRAR O QUE RESTA DA ALMA DE RIBEIRÃO - Geraldo Hasse
Uma certa unanimidade aponta o Pinguim como o grande ponto da gastronomia de Ribeirão Preto. Não há como questionar o charme desse septuagenário bar-restaurante-choperia, mas é indiscutível que lhe falta alguma coisa. Impossível saber se foi simples extravio ou perda definitiva.
Parece que o tempo conseguiu prender no Quarteirão Paulista apenas um pedaço da alma da velha capital do velh’oeste brasileiro. O resto está espalhado pela cidade. Num simples giro pelo centro é possível juntar alguns fragmentos dessa lenda brasileira.
A cidade precisava dar uma parada no ritmo de crescimento. Volta-se ao centro em busca de uma referência que nos linque com o passado, mas os detalhes vão se apagando a cada reforma e a gente como que perde o fio da meada nesse emaranhado de fios e fachadas mutantes.
Sobrou a praça, reduto de frescor e serenidade. E resta o Pedrão solene com sua estatura de cimento, mas nem ele com sua clássica sobriedade é capaz de absolver os que deixaram a Estrela d’Oeste apagar-se na queima impune do Cerrado Paulista.
Sem chorar, baixe os olhos e preste atenção nos paralelepípedos que cobrem o chão generoso do espaço entre a praça e o teatro. Foram colocados aqui há 100 anos, são os patronos de um plano diretor que jamais se concretiza. Por pouco não foram cobertos pelo manto negro do progresso. Salvou-os uma turma de saudosistas.
As pedras ficaram expostas para embalar as caminhadas e sustentar as conversas fiadas.
Lembre-se: não importa qual seja o palocci de plantão na cadeira de prefeito, quem manda na cidade são os cupins, as lesmas e os chopins. As andorinhas são testemunhas.
Mas veja que nem tudo se perdeu. Repare quantos bares põem cadeiras nas calçadas e sinta se aí não está presente um pedacinho da alma da cidade.
Sim, a beleza mora na simplicidade. A riqueza, na diversidade.
Esse brilho fugaz no rótulo úmido das garrafas suadas, esse raio fúlgido no colarinho generoso dos copos de cerveja, essa fartura nas porções que enfeitam as mesas -- carne seca, queijo provolone, filé no palito e lambari frito...Tudo isso são cacos brilhantes daquela alma varonil que se extraviou na poeira e na lama de tantas temporadas.
Nesses bares, nessas mesas simples o povo brinda o trivial sem maiores ilusões. Sente-se, peça uma também. Mesmo sozinho, saúde a memória dos que criaram, mantiveram e frequentaram os grandes pontos da gastronomia e da boemia ribeirãopretana, esconderijos onde a alma de Ribeirão busca refúgio. Beba e você verá que mesmo de porre um filho teu não foge à luta. Complete a lista dos pontos mortos da gastronomia ribeirãopretana:
Cassino Antarctica
Lanches Paulista
Caneca de Prata,
Três Garçons
Restaurante Jangada
Chopão
(Crônica publicada em 2018 no Guia do Centro de Ribeirão Preto (240 páginas) ; Geraldo <ghasse@th.com.br> - Achados & Perdidos )
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